Aconteceu outro dia uma trombada entre mãe e filho na porta do banheiro.
O menino olha e diz:
-Mãe, você precisa repor as toalhas…
Paro, respiro fundo e tento me conectar àquela velha anciana sábia, que levamos bem lá no fundo, bem no fundo mesmo.
Faço cara de paisagem (anos de treino) e respondo:
-É filho? E por que eu quem tenho que repor?
Olhar desconfiado, olhinhos subindo para cima do lado direito (indícios de: buscando respostas).
Mãozinhas e ombros sinalizando o “não sei” .
Eu: – Não pode ser você, filhote?
Menino: – Pode…
Eu: – Então bora lá…
Paro tudo que eu estava fazendo no computador e o que era só para ser uma escapada pro banheiro, vira lição do dia.
E haja mudança de foco.
Minha e dele que já estava na sala indo brincar.
Dou um grito pra ele vir na cozinha e juntos dobrarmos as toalhas, isso ele já sabe pois é costume dobrar as roupas…
Depois que o monte estava feito, perguntei:
-Onde você pode guardar isso?
Menino: – Repor no armário?
Dou aquela piscada de cumplicidade.
E menino saiu com seus braços curtos fazendo malabarismos com o montinho.
Grito lá da cozinha:
-Lú, da próxima vez você pode fazer isso sozinho? Foi MUITO legal você ver o que faltava no banheiro.
(reforço positivo, momento que uma psicóloga humanista agradece o santo behavorismo). rs
Menino: – Posso mamis!
Eu, cansada, com foco perdido mas não sem praticar o feminismo nosso de cada dia.
Sem desqualificar, sem agredir ou dar bronca.
E sim, ele é criança e terei que repetir essa paciência até ele aprender.
E o mais desafiador: por questões de praticidade diária, não fazer por ele o que ele é capaz de fazer sozinho.
Pois se ele achava que eu era responsável é porque isso foi ensinado através de nós.
Não adianta a bandeira ideológica fora de casa enquanto continuarmos lavando as cuecas e calcinhas de nossos filho(as) , genros, noras …
E ainda falta ensiná-lo sobre carga mental(ter que pedir o que ele poderia ter iniciativa de fazer) , mas isso é tema para outro texto.
Feliz semana da Mulher.
Por Gizele Cordeiro, mãe do Luiz, a mulher que respira várias vezes ao dia antes de responder os questionamentos do filhote. E muitas vezes, naturalmente grita. 🌻❤️